Na nossa “Cronologia Amparense” hoje vamos relembrar a nossa “Primeira Capela”, que o Camanducaia engoliu.
Desde tempos imemoriais o direito português admitia uma figura jurídica denominada “capela”, ou seja, a constituição de um patrimônio imobiliário destinado à subsistência e custeio de um pequeno templo. Se tal acervo fosse constituído de terras de cultura, o rendimento pertenceria ao administrador da capela, que, depois de retirar uma parte para si, aplicava o restante na conservação do templo e nas despesas do culto (Pereira e Souza, Diccionario Theoretico).
Muitas vezes, porém, a capela era dotada de um “rocio” (ou “rossío”, como aparece nos textos amparenses), isto é, um espaço aberto, de uso comum dos moradores, servindo como praça e até como pasto comunitário. O instituidor da capela, ou seja, aquele que doou o patrimônio dela e a edificou, vendia lotes ao redor do rocío para quem ali desejasse residir. Grande parte das cidades brasileiras tiveram origem nessas modestas capelinhas, construídas à margem de rios ou nas encruzilhadas das estradas.
O encontro de duas frentes de avanço da agricultura, bragantinos pelo sul, mogianos pelo noroeste, iria exigir a criação de um povoado no vale do Camanducaia, para propiciar aos moradores dos arredores um mínimo de serviços: comércio, ferrarias, alfaiates, sapateiros, tavernas, etc. Ora, uma povoação, no devoto mundo português, começava sempre com um templo, ou logo era dotada de um…
Amparo não foi diferente. Uma pequena capela foi construída, provavelmente nos primeiros anos do século XIX, nas margens do Camanducaia, junto à estrada que vinha de Atibaia e seguia para Mogi-Mirim, no Largo da Cadeia Velha, atual Praça Jorge Pires de Godoy, conforme narrou o professor Geraldo Dutra de Moraes, em artigo publicado há muitos anos em “O Comércio” (não temos no momento à mão esse texto, pelo que estamos recorrendo à memória, alternativa sempre perigosa… mas presumimos que seja o mesmo que foi publicado também na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol. 74:97/105).
Sabemos muito pouco sobre esse templo. Na verdade só existe uma informação sobre ele: a de que foi destruído por uma inundação antes de 1815, ano em que a Cúria Diocesana de São Paulo ordenou que a reconstrução fosse feita na encosta, longe do rio. Monsenhor Paulo Florêncio da Silveira Camargo, em “A Igreja na História de São Paulo”, 5:316, menciona alguns moradores da época: João Bueno, Manuel Vaz Pinto e Manuel Antônio Pereira, vindos de Bragança, Francisco (Xavier) dos Passos, João e Lino Domingues, de Atibaia, e Antônio Joaquim de Almeida, de Nazaré.
Batizados e casamentos, porém, continuavam a ser feitos em Mogi-Mirim, Encontramos nos arquivos mogianos vários assentos de moradores do “Sítio Camanducaia” e do “Cascalho”. É provável, entretanto, que também houvesse gente que casasse e batizasse os filhos em Bragança nessa época.
Restam muitas perguntas sem respostas: quando exatamente essa capela foi construída? Quem doou o terreno?, Quem a edificou? Que aspecto teria? Em que ano foi destruída pela enchente? 1814? 1815? Foram celebradas missas nela? Quem as celebrou?
As últimas duas perguntas tem respostas “prováveis”. É quase certo que algumas missas devem ter sido celebradas na capela do Largo da Cadeia Velha, do mesmo modo que hoje são realizadas nas capelas das fazendas e bairros afastados. Provavelmente teriam sido celebradas pelo vigário ou por um coadjutor de Mogi-Mirim.
As demais indagações devem ser estudadas à luz de um documento posterior, o “Tombamento de 1818 da Lª Companhia da Vila Nova de Bragança”. Mas esse é um assunto que fica para a próxima semana, se Deus quiser e meus numerosos afazeres de aposentado o permitirem…

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