O mau exemplo de São Brandão estava sendo abertamente imitado no final do século XV, especialmente depois que um certo Colombo deu metade do planeta ao Rei da Espanha (embora tenha sido a rainha quem pagou a viagem dele…). Todo cidadão que tinha uns trocados fretou um navio e lançou-se ao mar. Espanhois, portugueses, franceses, ingleses, dinamarqueses, holandeses, italianos e outros, estavam todos no Atlântico em busca de fama e riqueza.
O ano de 1500 é um dos que marcam o auge da folia marítima. Quatro viagens atravessando o Atlântico vieram ter às costas do Brasil. Pinzón, em janeiro, teria descoberto o Rio Amazonas e chegado ao Cabo Santo Agostinho, perto de Recife; Diego de Lepe, em fevereiro, teria alcançado um ponto ao sul do mesmo cabo. Os historiadores, porém, acreditam que tanto Pinzón como Lepe não passaram do Cabo Orange, extremo norte do Brasil.
Em abril chegava com todas as honras e pompas a esquadra de Cabral, com seus marcos e padrões, escrivães e outras autoridades, para fazer um descobrimento formal de nossa terra, deixando pasmados os tupiniquins locais com os enormes gastos da expedição (havia colares e pulseiras, além de espelhinhos e outras novidades, no “free shop” da frota, que foram distribuídos gratuitamente…).
Entretanto, o fluxo de novos turistas não parou nisso. O excelente “Diccionario de História de España” dá notícia de uma quarta viagem, em novembro de 1500, empreendida pelos irmãos Cristobal e Luís Guerra, fabricantes de biscoitos em Triana, bairro de Sevilha (é bom que lembrar que Rodrigo de Triana, gageiro da frota de Colombo, foi o primeiro a ver a América. O bairro tinha, pois, tradição no ramo…), e por seu sócio, o comendador Alonzo Velez de Mendoza. Capistrano de Abreu menciona essa expedição como “a viagem de Velez de Mendoza”, dando-a por mal conhecida.
Os irmãos Guerra já haviam estado na América antes, no litoral venezuelano, em companhia de Pero Alonso Niño, dono da caravela “Niña”, uma das que fizeram a viagem com Colombo. Na expedição de 1500 os Guerras foram mais longe, percorrendo o litoral brasileiro ao sul do Cabo Santo Agostinho, de onde regressaram com alguns escravos índios. Haviam partido da Espanha em agosto de 1500 e regressaram antes de 3 de julho de 1501.
Os irmãos Guerra pereceram numa terceira viagem à América em 1503/1504; Cristobal foi morto por índios e Luís morreu num naufrágio. Velez de Mendoza morreu antes de 1512 na ilha La Española (atual São Domingos).
A epopéia das grandes navegações democratizou o mundo medieval: fabricantes de biscoito, ou seja, donos de padaria, associavam-se a comendadores e armavam frotas para vir à América e congestionar o trânsito no Atlântico Sul. Mas também acabaram, democraticamente, sendo incluídos no cardápio dos nativos sul-americanos.
A era espacial é mais aristocrática e não permite a nós, barnabés da Receita ou padeiros, sonhar com uma aventura na Lua ou em Marte.
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