O TOMBAMENTO DE 1818 ou O FUNDADOR DE AMPARO.
 
O Brasil enfrentou um longo período de guerras no Sul a partir de 1750, que só terminou em 1870 com a derrota de Solano Lopez. O recrutamento militar era, pois, uma necessidade permanente. Além das “tropas de linha”, ou seja, a tropa paga do Exército, havia duas outras formas de serviço militar: as “Ordenanças” e as “Milícias”. O serviço militar no exército era muito longo, 16 anos para os recrutas e 8 anos para os voluntários, o que gerava reações como a fuga sistemática ao recrutamento e as deserções. Mesmo nas Ordenanças e nas Milícias, só mobilizadas em caso de guerra na capitania, os moradores estavam sujeitos a servir dos 16 aos 60 anos. O recrutamento era feito com base num recenseamento, o “tombamento”, feito pelo capitão-mor de cada vila e pelos capitães das companhias a ele subordinadas.
As terras do Amparo faziam parte de Nova Bragança e seus moradores integravam uma das companhias de ordenanças daquela vila. O comandante dessa companhia era o capitão Roque de Sousa de Moraes, importante personagem na nossa região, tendo ocupado cargos na Câmara Municipal de Bragança. Era homem abastado, que possuía uma extensa propriedade no “lugar denominado Rio de Camandocaya”, com 1500 braças de frente por 2.250 de fundo, e que deixou vasta descendência em nossa terra (Silva Leme, Genealogia, 1:532)
O saudoso Dr. Áureo de Almeida Camargo encontrou no Arquivo do Estado um texto denominado “Tombamento de 1818 da Lª Companhia da Vila Nova de Bragança”, elaborado pelo capitão Roque, contendo os nomes dos primeiros habitantes de Amparo e a descrição sumária de suas propriedades. Por esse tombamento se verifica que existiam moradores em vários núcleos que o capitão Roque distingue: “bairro denominado Camanducaia”, Córrego Vermelho, Vargem Grande, Araras, Boa Vereda, e “Rocío da Vila” (classificação imprópria, porque Amparo só seria vila em 1857), que certamente é a Praça Jorge Pires e Godoy. Além disso, menciona “terras de Nossa Senhora”, terrenos da capela, e “Campos Realengos”, pastos comuns a todos os moradores.
Todos os nomes listados pelo capitão Roque são de interesse para a História do Amparo, mas os moradores e proprietários enumerados no “rocío da vila” tem uma importância particular, porque são os primeiros habitantes da cidade e podem ser considerados genéricamente seus fundadores. E há um detalhe interessante: alguns deles haviam adquirido sua propriedade de outros anteriores, por compra ou herança. Isso indica que o povoamento já datava pelo menos de alguns anos. Cabe, por isso, a pergunta: qual deles foi o instituidor da capela primitiva nas margens do Camanducaia? quem doou o terreno? quem arcou com a despesa de construção?
O maior “suspeito” de ser o instituidor da capela é um misterioso ricaço, Balduíno Antônio de Campos, possuidor de 750 braças de frente, por 750 de fundo, de terras cultivadas, adquiridas por título de sesmaria, no “bairro da vila”, onde mantinha 17 escravos, Pela sua localização essa sesmaria deveria abranger boa parte da área onde hoje se situa a cidade de Amparo. Há um argumento em contrário; nenhum dos moradores adquiriu dele o seu lote urbano. Mas é muito provável que ele tenha contribuído generosamente para a construção da capelinha.
Prosseguindo nas buscas, verificamos que ele consta da Genealogia Paulistana, de Silva Leme, 4:61; era filho de um ituano com uma senhora de Mogi-Mirim, e fora casado duas vezes. Também descobrimos que seu nome completo era Balduíno Antônio de Campos Rego e que foi vereador em Bragança em 1817. Deve ter voltado depois à terra de seu pai, porque seu inventário está arquivado no Museu da República em Itu. Tudo isso aponta para ele como instituidor da capela, ou pelo menos, como financiador da obra, pois nenhum dos outros moradores tinha condições financeiras para tanto.
Assim, o tombamento de 1818, mais que recensear os pioneiros amparenses, lança um pouco de luz sobre o período anterior, permitindo que elaboremos hipóteses e apontemos um suspeito de ser o instituidor da primeira capela nas margens do Camanducaia. Isso é importante? Talvez seja, se a hipótese for confirmada, pois, em outros lugares, o instituidor da capela é geralmente reconhecido como o fundador da respectiva cidade. Balduíno Antônio de Campos Rego seria, pois, o fundador de Amparo, completamente ignorado de nossos historiadores e das autoridades municipais, já que nenhum logradouro público o homenageia.
Uma boa busca nos arquivos de Bragança e de Itu talvez desvende esse mistério e confirme ou desminta essa hipótese. Fica feito o convite aos eventuais interessados.
Fica nosso agradecimento ao professor Roberto Pastana Teixeira Lima, que generosamente nos propiciou uma cópia do Tombamento de 1818.
Um post-scriptum: lemos algures, provavelmente numa ata da nossa Câmara Municipal, que alguém, sem designação do nome, teria doado o terreno onde se situa a cidade… É outro mistério a ser investigado!

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