I – Onças e Índios.

 

A cidade do Amparo nasceu de uma pequena povoação iniciada em época indefinida, mas seguramente anterior a 1770, na margem do Camanducaia, à beira de um caminho que ligava a Estrada do Pau Cerne e o Vale do Paraíba ao “Caminhos dos Goiazes”, passando por Atibaia. Havia milênios que a região era habitada por onças e índios e nem mesmo os bandeirantes paulistas se estabeleceram nela; o relevo montanhoso e a floresta densa desestimulavam a colonização.

A região passou a ser mais freqüentada no século XVIII. Uma forte e ainda mal estudada migração foi provocada pela construção do “Caminho Novo”, aberto por Garcia Rodrigues Paes, que ligou Minas Gerais ao Rio de Janeiro. Esse novo acesso ao mar deixou o Vale do Paraíba fora da rota dos mineradores e comerciantes que abasteciam Minas Gerais. Empobrecidos com a perda da freguesia, os valparaibanos se deslocaram em busca de novos eldorados, a partir das primeiras décadas do século XVIII.

A Estrada do Pau Cerne, que ligava Jacareí a Jundiaí, onde se iniciava a rota para Goiás, foi a saída natural para esses migrantes. Entretanto, em Atibaia, um antigo caminho, provavelmente um “peabiru” indígena, encurtava o trajeto, levando diretamente a Mogi do Campo, hoje Mogi-Guaçu, bem adiante no rumo de Goiás. Esse caminho passava pelas montanhas da Mantiqueira e atravessava o Camanducaia exatamente onde hoje está situada a Praça Jorge Pires de Godoy.

Ao longo dessa via foram se instalando moradores esparsos, mas já em 1768 o Morgado de Mateus, governador da Capitania de São Paulo, se queixava ao governo português de que nela havia lugares, como o “Retiro do Camanducaia”, onde o nome e a própria existência do rei eram desconhecidos do povo.

Porém, uma boa parte dos migrantes que deixaram o Vale do Paraíba não chegou a Goiás; estabeleceu-se em dois lugarejos ao longo do caminho das minas, dando origem às atuais cidades de Mogi-Guaçu e Mogi-Mirim.

    Ao mesmo tempo, uma estrada entre São Paulo e Ouro Preto fora construída, passando por Bragança, então chamada de Jaguari, gerando um rápido povoamento de suas margens. Terras férteis, em meio a montanhas, criaram em Bragança uma nova fronteira agrícola, que passou a se mover para o norte, invadindo o território onde mais tarde se situou o município de Amparo.

Os mogianos, por sua vez, se deslocavam para sudeste, colonizando a Ressaca, hoje Santo Antônio da Posse, e alcançando os nossos atuais bairros de Pantaleão, Brumado e Duas Pontes. Neste último já penetrava também um bragantino, Felipe Pires de Ávila, que se estabelecera no Cascalho, bairro que deu origem a Pedreira.

Já na virada do século XVIII para o XIX os bragantinos se instalaram em grande número na Vargem Grande e no vale do Camanducaia, a montante dos Feixos, bloqueando pacificamente o avanço dos mogianos.

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