DESCRIÇÃO DOS TRABALHOS
Esta legislatura começou de maneira tumultuadas, como se narrou anteriormente, e terminou da mesma forma. A eleição realizada em 1872 foi anulada porque um dos membros da Mesa Paroquial, embora vereador, não estava qualificado como eleitor. Uma nova eleição foi feita só em março de 1873, quando já se vencera o quatriênio da Câmara empossada em 1869. E a posse dos novos eleitos foi retardada por manobras da bancada liberal no poder. Só em 14 de maio de 1873 foram empossados os novos edís, todos conservadores. Dois vereadores não compareceram à posse e um deles, João Rodrigues da Silva, conseguiu ser liberado do cargo, alegando “estado valetudinário”… Foi convocado um suplente, João Antônio Gonçalves, escolhido por sorteio, já que havia cinco candidatos empatados com a mesma votação… (Atas, 3:150)
O longo domínio dos liberais na política amparense começava a chegar ao fim. A Câmara eleita em 1873 não só era composta de conservadores, mas entre estes surgiam novas e fortíssimas lideranças, como o Dr. Francisco Antônio de Araújo e o então Alferes, depois Coronel, Luís de Sousa Leite. Até a velha oligarquia Godoy Moreira também estava presente com os vereadores José Pedro de Godoy Moreira e José Pires de Godoy. A presidência coube ao Dr. Araújo, advogado e fazendeiro em Amparo, patriarca da grande família de políticos e advogados que até hoje ornamenta a cidade com sua honradez e espírito público.
Os liberais só irão aparecer durante o quatriênio como suplentes convocados.
E os campineiros, na sua maioria liberais e fazendeiros de café, praticamente desapareceram da câmara até 1885, quando Antão de Paula Sousa foi eleito, mas nunca mais recuperaram a maioria.
Um fato importante ocorreu logo nos primeiros dias da legislatura. Na sessão ordinária de 22/5/1873 o Presidente da Câmara, Dr. Araújo, indicou como “urgente necessidade o aformoseamento desta cidade, que atualmente oferece um aspecto desagradável em consequência da irregularidade que se nota nas construções e desigualdade do terreno em que está situada, convindo estabelecer um plano geral de nivelamento para de conformidade com ele obrigar os particulares a fazer o rebaixamento e calçamento de suas frentes” – para isso sugere à Câmara contratar com o engenheiro da seção da via-férrea, Dr. Silva, um plano geral de nivelamento, “tomando por base o Largo da Matriz” – indicação essa aprovada. Foi a primeira tentativa de se dar à cidade algum planejamento urbano.
Formigueiros e pontes arruinadas, péssimas estradas e animais soltos pelas ruas continuaram a ser preocupações cotidianas da Câmara. Mas começam a surgir novas aspirações e novos sonhos entre os vereadores.
Na sessão ordinária de 23/5/1873 o Presidente Dr. Araújo fez ponderações sobre o abastecimento de água potável, que “era prejudicial à saúde” (feito em fontes), e sugere a contratação do engenheiro da via-férrea para organizar um plano e orçamento, encarecendo a necessidade de chafarizes.
Também as obras da Matriz Nova (nossa atual Catedral) eram objeto de cuidados. Acabou sendo inevitável pedir verba provincial para isso, pois a igreja estava sendo feita à custa dos moradores, que pagavam imposto sobre café, e uma indicação foi apresentada nesse sentido. Havia poucas esperanças de que fosse atendida, mas a Câmara entendeu que devia tentar obter esse apoio do governo da província.
Em 2/7/1873 moradores do bairro do Pary pediram licença para abrir atalho passando por terras do Capitão Eduardo Augusto da Cunha Freire, a sair na estrada que vem para esta cidade. Foi nomeada uma comissão para estudar o assunto. Essa solicitação gerou acirrada pendência com os proprietários atingidos, o Capitão Cunha Freire e o Major José Jacinto de Araújo Cintra, ambos liberais, que se sentiram perseguidos por motivos políticos.
Na sessão de 6/10/1873, um ofício do Ministro do Império solicitava donativos para o Monumento à batalha de Riachuelo; foi criada uma comissão para angariar donativos: Dr. José Ferraz de Oliveira, Vigário Antônio José Pinheiro, Francisco de Assis Santos Prado, Dr. José Pinto Nunes Jr., Tenente Antônio Pinto de Araújo Cintra, e Antônio Gonçalves de Oliveira Bueno.
Um incidente desagradável em meados de 1874, no qual foram assacadas infâmias contra o Dr. Francisco Antônio Araújo, resultou na renúncia deste à presidência da câmara. O vereador Godoy Moreira que assumira a Presidência fez veemente defesa do Dr. Araújo e se negou a reconhecer a sua demissão do comando da Câmara. Mas o Dr. Araújo era excessivamente apegado à política para se afastar dela e acabou retomando o cargo. Ele voltaria a deixar a Presidência no ano seguinte por ter assumido o cargo de Juiz Municipal do qual era suplente. Foi substituído pelo Vice-Presidente Godoy Moreira e em algumas sessões por José Pedro de Deus.
A Câmara foi enlutada em 1876 pelo falecimento do vereador José Pedro de Godoy Moreira, uma das grandes lideranças conservadoras no município e um dos elementos mais conciliadores da política amparense.