Todas as áreas da cultura foram cultivadas pelos amparenses desde as mais priscas eras. As letras e as artes se desenvolveram no município já no século XIX, com o surgimento de jornais, teatros, escolas, corporações musicais, bibliotecas, clubes. Velhas casas das fazendas mostram paredes com decoração clássica e sabe-se que até revistas e jornais estrangeiros eram assinados por nossos ancestrais.  E a cidade produziu algumas figuras importantes para a cultura brasileira:

Carlos Ferreira – jornalista, teatrólogo, educador, benfeitor de nossa biblioteca, que funciona em prédio por ele doado, foi colega e companheiro de quarto de Castro Alves.

Cléo de Verberena – Jacira Silveira – amparense, foi atriz, cineasta pioneira, primeira mulher a dirigir um filme de cinema no Brasil.

Áureo de Almeida Camargo – advogado, filho do ministro Laudo de Camargo, é por excelência o historiador do Amparo, não só pelas obras que publicou, “Efemérides Amparense”, Romagem pelo Patío” e outras, como pelo rico arquivo que legou.

Jorge Pires de Godoy – amparense, filho do político Antônio Pires de Godoy Jorge, jornalista, poeta, escritor, publicou os almanaques de Amparo, uma das maiores fontes de nossa História.

Outros escritores? Muitos, mas Ciça Ronchi, um exemplo de coragem e determinação, é escritora e pintora aos… (não se diz a idade de jovens senhoras, mas Ciça se formou no Normal em 1954).

Poetas – Temos sim!  E bons…  Marcelo Henrique, Pedro Guedes, Luzia Neto, Cristina Aredes, Jandira Grillo, Maria Helena Catelli, e uma multidão… Todos com muito estro, agrupados em diversas instituições, inclusive na Academia Amparense de Letras. Fazem bonito nos concursos literários deque participam, sendo frequentemente premiados por suas obras.

Jornalistas – Seria preciso um outro trabalho, maior do que este, para arrolar todos.  Dr. Áureo de Almeida Camargo publicou um trabalho sobre a imprensa amparense, com dezenas de nomes que participaram de nossos jornais desde a década de 1870, inclusive Carlos Ferreira e Jorge Pires de Godoy. Mas nos últimos anos é justo destacar o Dr. José Jorge, João Jorge, Luís Humberto Catelli, Luzia Neto e João Aredes, cronistas de mão cheia, que estão a merecer uma “antologia” ou uma “coletânea”.

Teatros –  Todo mundo lembra do Teatro João Caetano, estupidamente destruído por ordem de um burocrata imbecil, que não permitiu sequer que fossem salvas as pinturas de Benedito Calixto (embora haja vaga notícia de que o professor Paschoal Roberto Turatto teria resgatado alguma coisa). O João Caetano era uma miniatura dos grandes teatros europeus e foi decorado por Benedito Calixto (e Almeida Júnior?).  Mas houve outros; um deles, mencionado por volta de 1873 no próprio Largo do Rosário.    Existiu também, antes de 1890, o Teatro Rink, no cruzamento das ruas Barão de Campinas e Marechal Deodoro (cuja localização precisa tem sido objeto de cerrada polêmica entre o autor destas linhas e o jovem advogado Dr. Guilherme Coli.

Tamanha era a paixão pelo teatro que se organizou em 1882 em plena zona rural, no Bairro da Boa Vista (para os lados de Entremontes), uma “Sociedade Dramática Particular José de Alencar”, dirigida pelo fazendeiro Tenente Joaquim de Sousa Toledo. O fato é que, entre 1870 e 1930 até óperas foram encenadas nos teatros de Amparo; companhias dramáticas estrangeiras também se exibiram no João Caetano, alternando-se com grupos amadores locais. Carlos Ferreira e Narciso Vieira eram, nessa época, os grandes nomes da atividade teatral em Amparo, o primeiro escrevendo peças, e o segundo dirigindo grupos de atores locais. Um animado grupo de amadores se exibiu durante muitos anos no Teatro São Benedito, anexo ao convento franciscano.  Um novo teatro está planejado, por iniciativa da família Beira, em parceria com nossa Prefeitura. Embora a localização não seja ideal, por falta de local para estacionamento, será um grande avanço para Amparo.

Música – Qual é a cidade que pode se gabar de contar com meia dúzia de lindas valsas dedicadas a ela?  Talvez nem mesmo Viena…   Bandas de música e professores de música existem em Amparo desde longo tempo, mas a chegada de grandes ondas de imigrantes europeus contribuiu para que elas se multiplicassem, sendo comum que eventos cívicos ou políticos fossem abrilhantados por duas bandas.  Alguns dos professores de música alcançaram celebridade na região como Teodoro Yahn e Teófilo Isauro de Matos.  Mais tarde, Décio Pacheco da Silveira e outros compositores locais nos brindaram com centenas de músicas, inclusive as famosas valsas “Nossa Senhora do Amparo” e “Club Oito de Setembro”. E a professora D. Bartira Franco preparou centenas de pianistas, ao longo de décadas.  Hoje temos um conservatório, instalado no mesmo prédio que sediou o Ginásio do Estado e a Escola Técnica de Comércio.  Somos uma cidade musical, com um único desafinado: o autor destas linhas…

E só para se ter uma ideia de quem são os compositores locais arrolamos músicas de autores amparenses, tocadas na “Festa Amparense”, em São Paulo, em 8 de setembro de 1941:

“Saudades de minha terra” – valsa de Décio Pacheco Silveira.

“Saudades de Amparo” – valsa de autoria de Antônio Jorge Filho.

“A Caipirinha” – polca do saudoso maestro amparense Manuel Firmino Barbosa – solo de violino pelo amparense Ari Alves da Silva, tocada na “festa amparense” de 8/9/1941 (CP).

“Folha Caída”, valsa de Décio Pacheco Silveira.

“Club 8 de setembro” valsa de Antônio de Rimini.

“Olhar de minha mãe” – valsa de Leôncio Alves da Silva.

“Nas águas do Camanducaia” polca de Mário Brasil Fagundes.

“Violeta” valsa de Virgílio Mugnai.

“Saudades de Iguape” valsa do saudoso compositor e musicista amparense João Batista Nascimento.

“Nossa Senhora do Amparo” – valsa de Décio Pacheco Silveira.

Biblioteca – E a nossa Biblioteca Municipal, originada do velho Grêmio Literário Carlos Ferreira (fundado pelo agente do Correio Manuel de Matos Azevedo e mantido vivo durante décadas pelo Andorinha e pelo Flávio Vasconcelos), conta com um acervo de milhares de volumes, muitos deles “obras raras”, que estão a merecer mais cuidado e conservação. Um reparo:  não há razão para manter a biblioteca fechada nos fins de semana, já que o Andorinha e o Flávio a mantinham aberta a semana toda. E precisa de um conselho curador, para evitar que seja atingida pela praga dos “descartes”, que vem empobrecendo outras bibliotecas.

A Pinacoteca Municipal, criada pelo prefeito João Cintra, precisa ser reativada e exposta ao público, pois não há motivo para sua desativação, já que os quadros existem e são de ótima qualidade.

O Museu – Criado por lei municipal de autoria do vereador José de Campos Guerra, o Museu Histórico e Pedagógico Bernardino de Campos é uma das glórias de Amparo. Composto por peças doadas pela população local, sem verbas públicas, é patrimônio do povo de Amparo. Seu acervo conta com 18.000 espécimes, muitos deles únicos no Brasil, inclusive a coleção entomológica do Dr. Paulino Rech, móveis do Barão de Campinas usadas para hospedar o imperador D. Pedro II, veículos usados para combater epidemias no começo do século XX, e outras preciosidades, além de um acervo bibliográfico com centenas de volumes. Basta dizer que uma das coleções mais completas de “O Tico-tico “faz parte de seu acervo.  Essa venerável instituição vem correndo grave risco, devido à desastrosa interferência da Secretaria de Cultura do Governo do Estado, que ameaça desfalcar suas coleções, sob alegação de que falta espaço para exibi-las… Até o nome do museu foi mutilado, deixando de ser “histórico e pedagógico”, o que causou suspeitas entre os que o estimam.

Estátuas e monumentos – As praças e alguns lugares públicos da cidade estão ornadas com estátuas e bustos de personalidades importantes para a História local. Luís Leite, Paulino Rech, Laudo de Camargo, o Barão de Campinas, monsenhor João Batista Lisboa, os médicos Dr. Atílio Mazzini, Coriolano Burgos, Carlos Burgos e Cid Burgos, foram homenageados por essa forma.  Uma galeria retrata na Câmara Municipal homenageava outras personalidades, mas essas peças foram recolhidas ao Museu Bernardino de Campos, onde aguardam destinação. Além disso, existem outros monumentos, como o “Índio”, o “Obelisco da Independência”, o “Monumento dos Pracinhas”, e o “relógio de sol” na praça Pádua Sales; a estátua do “Bandeirante”, oferta da colônia árabe, está no Largo São Benedito, e uma placa homenageia os mortos de 1932 na praça Monsenhor João Batista Lisboa, junto ao coreto ofertado pela colônia italiana no centenário da cidade.

Há telas de Almeida Júnior no Hospital e no Grêmio. Também havia na Catedral, mas foi desapropriada pelo governo do Estado… E talvez tenha sido um amparense o maior possuidor de obras de Benedito Calixto; em 5/7/1909 Abelardo Goulart comprou 4 telas de Benedito Calixto: “Sítio do Guamium”, “A Fiandeira”, “Panorama do Porto do Tumiaru” e “No Pouso” (CP). Ainda restam na Catedral dois trabalhos de Calixto, “A Última Ceia” e…  E Amparo se enche de orgulho ao mencionar as pinturas de Leandro Frediani, escolhido para pintar a cópia do quadro de Almeida Júnior, o “Batismo de Cristo”, desapropriado pelo governo do Estado, e autor de centenas ou milhares de outros trabalhos.

Fotografia – temos o único club de fotografia do Brasil com sede própria, o magnífico prédio construído pelo Dr. Antônio de Oliveira Nóbrega na Rua 13 de Maio. Dizem que é a melhor sede própria de um club de fotografia no mundo.  Era necessário que tivéssemos um bom club de fotografia, pois um dos pioneiros da fotografia, o francês Hercules Florence, considerado um dos seus inventores, foi fazendeiro em Amparo e familiares seus aqui residiram até 1870. Depois tivemos o Alberi, e hoje temos Sérgio Jorge, fotógrafo de renome mundial, além do Vilasboas, premiado em concursos internacionais, e que ganhou três vezes o prêmio Nikkon… E mais o Reginaldo Leme.  Sem esquecer o velho Rocha, o Negrão e outros…

Amparo nas Artes –  A cidade, povoada por fazendeiros ávidos por se ilustrar e desejosos de demonstrar que eram homens civilizados e não simples campônios, já exibia desde os seus primeiros anos algumas obras de arte, consubstanciadas na decoração das sedes de fazendas, com pinturas murais e objetos de adorno.  Mais tarde, ainda no século XIX, quadros hoje exibidos no Museu, Grêmio Português, Catedral e Hospital Ana Cintra, de autoria de Almeida Júnior e Benedito Calixto, os principais pintores da época, demonstram o gosto dos amparenses pelas artes.

A cidade, aliás, ostenta uma série de  monumentos,  uns bastante antigos, outros mais recentes, como o   “Cristo Redentor”, no morro da Biquinha na praça Pádua Sales ; os bustos de Dr. Paulino, Luís Leite, Monsenhor Lisboa e do Barão de Campinas, além dos dedicados aos Burgos, no Hospital Ana Cintra; um  relógio de sol adorna  a  praça Pádua Sales, junto com o Obelisco da Independência,  o “Índio” e o Monumento dos Pracinhas;  o “Bandeirante”,  oferecido pela colônia árabe enfeita o Largo de São Benedito, enquanto  o coreto oferecido pela colônia italiana  compõe elegantemente o Largo da Catedral.

Mas Amparo também gerou artistas, como os entalhadores e fundidores da Escola Profissional, Albano e Gim, autores dos púlpito e confessionários que  decoram a Catedral.  A águia do tumulo do maestro Antônio Jorge é obra do velho Frediani, cujo filho, Leandro Frediani, um dos grandes pintores brasileiros, teve a honra de ser escolhido para fazer a cópia do quadro de Almeida Júnior, “O Batismo de Cristo”, que iria substituir na Catedral o original desapropriado pelo Governo do Estado.

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