Antes, entretanto, que recapitulemos os amparenses e suas obras, cabe um breve elogio à terra da qual, em última análise, tiramos o nosso sustento.

É preciso ressaltar que nós, amparenses, vivemos em “terras chãs e fermosas” abençoadas por Deus, “nas quais, em se plantando, tudo dá”, banhadas por dois belos rios, o Camanducaia e Jaguari.  O relevo acidentado dificulta a mecanização em boa parte do município, mas a fertilidade do solo compensa largamente a produção de café, frutas e até mesmo de cereais como o milho e o feijão, além de batatas, mandioca e uma infinidade de outros gêneros.  Já mencionamos que éramos o primeiro ou segundo maior produtor mundial de café na década de 1870, e em 1905 Amparo era o segundo maior produtor agrícola do Estado, com 9.661:700$000; entretanto, já em pleno século XX, no governo Geisel, uma  geada no Amparo, maior produtor nacional de chuchu, provocou a mudança no cálculo do custo de vida… Tivemos uma razoável produção de laranjas, destruída pela estupidez do governo do Marechal Dutra, mas Crispim Pinto Lima já produzia laranjas aqui em 1844; durante muito tempo fomos grandes produtores de tomate e de algodão; cana e soja só podem ser cultivadas na parte norte do município, a partir do Pantaleão e de Duas Pontes,  onde o relevo se adoça e permite a mecanização.

O morango – essa simpática frutinha – produz bem em Amparo, mas refugiou-se ultimamente em Monte Alegre.  Junto com a frutinha foram-se os alambiques para essa cidade

que é nossa filha caçula.  Aliás, nossas filhas, Pedreira, a primogênita, e Monte Alegre, são também um motivo de orgulho para nós, que as criamos e protegemos até que se emancipassem.  Pedreira, depois de se tornar um grande centro da indústria cerâmica, voltou-se para o comércio de variedades, atraindo milhares de turistas toda semana. E Monte Alegre, além de morangos e boa cachaça, é também uma estância turística muito procurada. E lá está o nosso amigo Amaury Valente, que não só “fecha os corpos”, mas confecciona móveis com muita arte.

Longe vão os tempos em que meu hexavô Felipe Pires de Ávila comia “carne de macaco com palmito “. Em compensação, a Fazenda Atalaia produz queijo premiado numa exposição internacional na Espanha. E no Festival de Inverno temos acesso a outras delícias da culinária amparense, como a “porqueja”, a “galinhada com feijão tropeiro”, as várias sopas e caldos, inclusive a de nossa predileção, a de abóbora com carne seca… E que salada não daria para fazer com o “palmito monstro”, dado por Peixoto Gomide ao Coronel Luís Leite?   (A Nação – 24/6/1898).

O que não dá para esquecer é o “bolo da Padroeira”, que é sorteado no dia 8 de setembro de cada ano na quermesse da Catedral; antigamente era feito pela Conceição Jorge. Tivemos a felicidade de ganhar um nessa época…   E por falar em quermesse da Catedral, é uma festa animadíssima que existe há muitos anos. A primeira vez que comi um “cachorro quente” foi numa das suas barracas, nos idos de 1943 ou 1944. Depois, tivemos uma época em que eram sorteadas leitoas, assadas em forno de padaria.  Acho que os cardiologistas proibiram…

Essa é a terra do Amparo, generosa e produtiva, partilhada entre centenas de proprietários, trabalhada por milhares de mãos, e que, apesar de tudo ainda hospeda flora e fauna razoavelmente diversificadas nos restos da Mata Atlântica. Até mesmo onças pardas voltaram a ser avistadas; capivaras frequentam nossas ruas, e uma tribo de pequenos macacos morou na Rua Comendador, até que a Prefeitura a despejou e transferiu para o Orquidário. Mas bandos de aves povoam nosso céu e o próprio subscritor destas linhas recebeu a visita de um tucano de bico preto em seu terraço…

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