Os amparenses têm lutado por sua terra? Quando examinamos nosso passado nos surpreendemos ao perceber que temos uma rica história militar. Aprendemos que não somos um povo guerreiro, mas que, quando necessário, sabemos nos bater pelas nossas causas.  E, aparentemente, nossa localização geográfica envolve aspectos estratégicos porque, por diversas vezes, temos sido envolvidos em conflitos armados originados de lugares distantes.

Sabe-se que José da Silveira Franco, filho do patriarca Francisco da Silveira Franco, participou da Guerra da Cisplatina, de onde regressou com o posto de capitão e casado com uma uruguaia, D. Maria Jacob Franco.  As notícias sobre esse batismo de combate de um amparense, porém, são escassas.

O primeiro confronto bélico bem conhecido teve amparenses de ambos os lados.  A Revolução de 1842, promovida pelos liberais, liderados pelo padre Feijó e pelo brigadeiro Tobias de Aguiar contra o governo do marquês de Monte Alegre, teve seu encontro decisivo no combate de Venda Grande, nos subúrbios de Campinas. Havia amparenses nas duas tropas, Padre Abel e Alves Cordeiro com os legalistas, Palhares de Andrade e outros liberais com os rebeldes. A vitória coube à força legalista, mais bem armada e disciplinada. Enquanto isso, no Pantaleão, preparava-se a “revolução dos Cintras”, grupo chefiado pelo Major Jacinto Cintra e por José da Silveira Franco. A repentina aparição de uma tropa vinda de Mogi-Mirim provocou a debandada dos rebeldes amparenses, que se retiraram para Atibaia, onde se mantiveram até ser decretada a anistia.

Amparenses na Guerra do Paraguai – Segundo o Dr. Áureo de Almeida Camargo, entre Voluntários da Pátria e recrutas, mais de cem amparenses participaram da campanha do Paraguai, entre eles dois filhos de José da Silveira Franco, o veterano da Cisplatina. Estamos carecendo de uma boa busca nos arquivos do Exército para conseguir melhores informações sobre nossos soldados nesse conflito.  Basta, porém, o elevado número de conscritos, para se ter uma ideia da importância da participação amparense.  E grandes quantias foram arrecadadas entre nós em subscrições para a compra de armas e outras despesas militares.

A “Guerra dos Rasga-Listas “´ é um episódio até agora ignorado pelos historiadores paulistas. Trata-se de uma rebelião popular que eclodiu na região limítrofe entre São Paulo e Minas Gerais, na qual os rebeldes atacavam as igrejas e cartórios para “rasgar as listas de recrutamento militar”.  Por esse mesmo eram contrários ao Registro Civil, mas também voltaram sua fúria contra o sistema métrico decimal, destruindo pesos e medidas.  No Nordeste do Brasil ocorreu algo semelhante, que lá se chamou “revolta do Quebra-Quilos”. Aqui a insurreição começou em Monte Sião e outros lugarejos do Sul de Minas e os rebeldes ocuparam Socorro e se preparavam para atacar Serra Negra (Mogi-Mirim se declarou tranquila porque estava sofrendo uma epidemia de varíola e os revoltosos temiam essa moléstia…).  Luís Leite, que era o delegado de polícia de Amparo, com o auxílio de um destacamento da Capital, dispersou os revoltosos numa escaramuça entre Serra Negra e Socorro e aprisionou os chefes rebeldes.

Nessa mesmo época, travava-se na Itália a guerra pela unificação da península, da qual Giuseppe Garibaldi era um dos líderes.  Luigi Domenicali, morador de Amparo no final do século XIX, gabava-se de ter sido “garibaldino”, lutando pela unificação da Italia na tropa de Garibaldi.  Luigi foi inclusive presidente de um comitê para a edificação de um busto de Garibaldi em São Paulo.

Felizmente os episódios seguintes de nossa História, a Abolição e a República, foram pacíficos, sem combates, mas com festas e muita movimentação política. Um único incidente digno de nota, em nossa região, é narrado por Hildebrando de Siqueira na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.  A Câmara Municipal de Serra Negra, toda composta de vereadores republicanos, num arroubo de entusiasmo, proclamou a República naquela cidade. Os vereadores ocuparam a cadeia, o fórum e outras repartições e organizaram grande festa comemorativa.  De madrugada, cessados os excessos alcoólicos e emocionais, retiraram-se para suas residências, a dormir o sono dos justos… De manhã chegou um trem carregado de tropas vindas do Amparo, provavelmente policiais e guardas nacionais, que reocuparam as repartições públicas e prenderam o secretário da Câmara, que se esquecera de ir para casa quando a festa terminou… Meu avô materno, Camilo Pires Pimentel, vereador, certamente esteve envolvido nessa mini revolução, mas escapou impune…

Uma crise que poderia ter degenerado em violência no Amparo foi a queda do Marechal Deodoro.  O velho militar, herói da guerra do Paraguai, líder da proclamação da República, não estava preparado para a presidência e sua equipe também não teve aptidão para debelar os problemas econômicos surgidos com a crise financeira do Encilhamento.  A situação política se complicou e Deodoro fechou o Congresso, mas a Marinha e parte do Exército se opuseram a essa medida.  Deodoro acabou renunciando e deixando desamparados os governadores que o apoiaram.  Um deles foi Américo Brasiliense de Almeida Melo, presidente do Estado de São Paulo, que passou a reprimir e prender os opositores.  O Conselho de Intendência de Amparo (que substituíra a Câmara Municipal) apoiava Américo Brasiliense, mas os chefes políticos Luíz Leite, João Belarmino, Pedro Pastana e Pedro Penteado divergiram dos intendentes.  Organizaram uma vasta manifestação popular, com apoio dos fazendeiros e trabalhadores rurais, inclusive dos colonos estrangeiros, e ocuparam o Conselho de Intendência, a Delegacia de Polícia, o Fórum, e demitiram as autoridades locais.

Ocorreu nessa ocasião um famoso incidente.  Com receio de que Américo Brasiliense mandasse tropas para reprimir a revolta do Amparo, os chefes mandaram um espião a Jaguari (hoje Jaguariúna), com a missão de remeter telegramas a cada comboio que passasse por aquela estação rumo ao Amparo. Eis que chegou um telegrama dele: “segue trem cem soldados”. O pânico foi enorme; não havia como resistir a uma tropa desse porte. A maior parte dos insurgentes voltou para as fazendas, mas a essa altura o trem chegou, “sem” soldados.  A ignorância do espião semianalfabeto havia causado a confusão…

A partir daí, entretanto, a paz desapareceu na República. Eclodiram simultaneamente a Revolta da Armada no Rio de Janeiro e a Revolução Federalista no Sul.  O Rio de Janeiro foi bombardeado pelos navios rebeldes e esquadras estrangeiras entraram na baía da Guanabara com o pretexto de proteger compatriotas que ali residiam. Floriano Peixoto, o novo presidente da República, era um homem violento e implacável. Sustentou a luta na Capital Federal e    mandou para o Sul, além de tropas, o famigerado Coronel Moreira César, que assassinou dezenas de pessoas em Curitiba e outro tanto em Desterro (hoje Florianópolis).

Mas a Revolução Federalista continuou, fortalecida por mercenários uruguaios e platinos, avançando até Castro, no Paraná. O governo federal apelou para todos os cidadãos, pedindo auxílio contra os rebeldes. Amparo, um dos berços da República, não podia ficar de fora. Organizou-se o voluntariado, inclusive no bairro dos Silveiras, sob o comando de João Belarmino Ferreira de Camargo.  Um esquadrão comandadopor Augusto Fagundes partiu para o Paraná, via Itapetininga e Itararé.  E logo a 3ª Companhia de Amparo, integrando o “Batalhão Campineiro” entrou na luta, participando do combate de Castro em abril de 1894. Em maio essa tropa já estava retornando a Amparo, onde foi recebida com um banquete na fazenda de Tristão da Silveira Campos.

O Brasil ainda iria passar por alguns sustos, como a “guerra de Canudos”, a “revolta da Chibata” e a denúncia de conspirações monarquistas.  Numa delas, denunciada em 26/3/1897, no Correio Paulistano, havia vários amparenses envolvidos: Padre João Manuel, Dr. Carlos Amaral, Dr. Sales Camargo, Dr. Silveira Cintra, o Comendador Manuel José Gomes, Dr. Joaquim de Sousa Campos Jr., Dr. José Felipe Toledo, Alexandre Polino, e Dr. Francisco Antônio de Araújo.  A conspiração fracassou, mas a repressão a ela foi nula; eram tantos os figurões envolvidos, que ninguém foi punido…  Um incidente fronteiriço com Mogi-Mirim, na famosa “Questão das Duas Pontes”, resultou num breve tiroteio, sem vítimas. Foi a “nossa guerra” …

Só em 1915 a Primeira Grande Guerra iria provocar atividades militares em Amparo. Dezenas de imigrantes italianos foram recrutados por seu país para lutar contra a Áustria e atenderam ao chamado. Identificamos nas notícias da imprensa quinze nomes, mas o número é maior. Um deles –  Alfredo Janotti, jovem promissor, líder de um grupo teatral em Amparo – morreu em combate na Albânia.

O torpedeamento de navios brasileiros e a subsequente declaração de guerra contra a Alemanha provocou uma intensa emoção em Amparo, com manifestações públicas e a adoção de medidas preparatórias para apoio ao país na eventualidade de maior participação no conflito. A lamentar, porém, que o ressentimento popular tenha se dirigido contra os frades do Convento de São Benedito, alemães, que tiveram que ser substituídos.  Alguns amparenses, moradores da zona rural, foram convocados, e pelo menos um deles faleceu em Dakar, vítima da epidemia que dizimou uma missão médica, que o Brasil enviara para a Europa e que nunca chegou lá…  (era filho da Placidina, moradora do Martírio, mas nunca soube o nome dele…)

O panorama político nacional que parecia ter se acalmado, voltou a se complicar com a revolta do Forte de Copacabana em 1922, quando jovens oficiais se insurgiram contra supostos insultos aos militares por parte de Arthur Bernardes, candidato à presidência da República. Nessa ocasião não houve repercussão maior em Amparo, mas pouco tempo depois, em 1924, a mesma corrente militar deflagrou, na cidade de São Paulo, a “Revolta de Isidoro”.  O General Isidoro Dias Lopes sublevou parte da Força Pública e alguns quartéis do Exército, ocupando parte da capital paulista. O governo federal cercou a cidade e a bombardeou pesadamente com artilharia, matando centenas de civis inocentes.  Em meio aos combates, uma coluna comandada pelo tenente João Cabanas escapou ao cerco, viajando de trem, e ocupou Campinas. A seguir, em outro trem, pela Mogiana, a coluna dirigiu-se para Amparo.  A cidade estava indefesa e as autoridades se retiraram ao saber que os revolucionários já haviam chegado a Pedreira.  O tenente Cabanas foi recebido na Estação pelo Pimenta, “preso mais antigo”, que fora encarregado pelo coronel Alonso, então delegado, de entregar as chaves das repartições públicas aos rebeldes… Depois de várias estripulias, inclusive um ataque a Itapira, Cabanas e sua tropa voltaram para São Paulo. Dias depois, num cochilo inacreditável das forças federais, Isidoro e seus companheiros fugiram de trem pela ferrovia Sorocabana, indo até Presidente Prudente, onde se reuniram com o destacamento de Luís Carlos Prestes, vindo do Rio Grande do Sul. Ia começar a “grande marcha” da Coluna Prestes…

A Coluna Prestes rodou pelo sertão durante dois anos, até se asilar na Bolívia em 1926. Um amparense, o Capitão Luso Garrrido, foi processado como sendo um dos revolucionários de 1924. E quem foi preso pelas forças federais, depois que a revolução acabou, foi o presidente do Grêmio Português de Beneficência, Manuel Martins, por ter permitido que a tropa do tenente Cabanas se alojasse lá…  Provavelmente esperavam que ele armasse os enfermeiros e os pacientes e expulsasse os revolucionários…

Em 1929 a superprodução de café criara uma situação econômica extremamente perigosa, mesmo porque havia uma falsa sensação de prosperidade, o que levava as pessoas a se endividar para adquirir novas propriedades ou bens de consumo, como automóveis.  Os governos dos Estados de São Paulo, Minas e Espírito Santo, garantiam a compra da produção cafeeira, mas o dinheiro era fornecido por bancos europeus.  Em julho desse ano os bancos avisaram que não mais iriam financiar os estoques de café. Os líderes da cafeicultura entraram em pânico e passaram a pressionar o governo federal, pedindo ajuda. O presidente Washington Luiz se recusou a intervir no problema e o pânico se instalou, não apenas na praça de Santos, mas em toda a região produtora de café.  Para piorar as coisas, dias depois, a Bolsa de Nova York quebrou deflagrando a pior crise financeira da História.

Apesar da crise, Washington conseguiu eleger seu sucessor, Júlio Prestes, derrotando o oposicionista Getúlio Vargas, com a ajuda de fraude eleitoral generalizada.  Parecia que, apesar de tudo, Júlio Prestes iria tomar posse e o país iria curtir a crise em silêncio.  Entretanto, um acidente político, o assassinato de João Pessoa, presidente da Paraíba e candidato oposicionista a vice-presidente da República, entornou o caldo…  Em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, eclodiu um movimento armado, que logo se apossou de todo o Nordeste, do Paraná e Santa Catarina e do Espírito Santo.  Começaram a haver combates em vários pontos do território nacional e previa-se uma grande batalha, em Itararé, na divisa entre São Paulo e Paraná,

No Amparo os líderes situacionistas procuraram organizar um voluntariado para auxiliar as tropas federais.  Enquanto isso, oposicionistas faziam reuniões conspiratórias, das quais participavam o Dr. Demétrio Toledo e Cássio Pimentel, mas que quase certamente contavam com a presença dos Drs. Plínio do Amaral, Constâncio Cintra, Paulino Rech e de Afonso Celso de Toledo Franco.

A 29 de outubro, o alto comando militar no Rio de Janeiro chegou à conclusão de que não havia possibilidade de resistência e derrubou Washinton Luís. O cardeal Leme, filho de amparense, foi convocado para convencer o presidente a se render e deixar o Palácio, rumo ao exilio. Uma junta militar assumiu o governo. Terminava melancolicamente a Primeira República.

Em Amparo, o escrivão do júri José Nunes de Siqueira captou a notícia num aparelho de rádio e a difundiu. Nos dois dias seguintes, as autoridades do antigo regime deixaram a cidade e eclodiram manifestações populares violentas, com o empastelamento do “Amparo Jornal” e a depredação de consultórios e escritórios dos partidários de Washington.  “O Comércio” só não foi empastelado, pela intervenção dos jovens Horacílio Araújo e Nelson Godoy que, em vibrantes discursos, conseguiram conter a multidão.

A Coluna Veado, criada com partidários do governo em Amparo, havia partido para Mogi-Mirim, provavelmente para atacar Guaxapé, mas ao sobrevir a queda do governo se dissolveu e se dispersou em Mogi-Mirim.  Uma junta revolucionária assumiu o comando da cidade de Amparo.  O longo reinado de João Ferraz e seus companheiros se encerrou.

Dois anos depois, a inabilidade do novo governo federal provocou profundo descontentamento em São Paulo.  A crise econômica continuava destruindo fazendeiros e comerciantes.  As medidas tomadas pelo governo eram altamente impopulares e mesmo aquelas que eram acertadas, como a queima dos estoques de café, não foram devidamente explicadas à população. A nomeação de um dos tenentes, o pernambucano João Alberto de Lins e Barros, para o cargo de interventor em São Paulo, foi recebida como um insulto pela maior parte do povo paulista. Começaram a surgir focos conspiratórios, que logo se coligaram.  A 9 de julho de 1932 eclodiu a Revolução Constitucionalista, exigindo a convocação de uma assembleia constituinte, eleições gerais e algumas medidas de carácter econômico.

No Amparo, a ´população somou esforços para organizar um batalhão local, o “23 de maio”, que, sob o comando do tenente José Ferraz de Oliveira, em conjunto com outras forças, invadiu o Sul de Minas, ocupando sucessivamente Monte Sião, Ouro Fino, e Borda da Mata.  Essa força paulista, entretanto, foi derrotada nas proximidades de Pouso Alegre, pela tropa federal, equipada com artilharia de campanha e muito bem treinada e disciplinada. A retirada foi inevitável, mas sempre oferecendo resistência, tendo havido combates em Eleutério e outros locais.

Após mais de um mês de combates, no início de setembro a artilharia das tropas federais começou a bombardear a cidade de Amparo, efetuando mais de 70 disparos.  Por milagre, não houve baixas na população civil, que se abrigara inclusive no porão da Escola Profissional, cujas paredes reforçadas ofereciam melhor proteção. Além da artilharia, a força aérea federal, da qual fazia parte o futuro Brigadeiro Eduardo Gomes, também efetuou ataques. Num desses bombardeios Eduardo Gomes foi surpreendido, em cima do Amparo, por aviões paulistas da esquadrilha “Gaviões de Penacho”, que o perseguiram até a base federal em Mogi-Mirim. O avião de Eduardo Gomes foi destruído no solo, assim como os demais aparelhos que ali estavam estacionados. Essa foi a primeira grande batalha aérea no hemisfério sul.

Finalmente, a 9 de setembro de 1932, as forças federais penetraram na cidade.  Mas o valoroso Batalhão 23 de Maio continuou combatendo e ainda tentou retomar a cidade, chegando à atual rua Cabo João dos Santos. Por mais 20 dias se combateu em território amparense e uma última resistência foi oferecida por moradores do Bairro das Onças, que impediram que soldados federais atravessassem o rio Jaguari. Perdemos alguns heróis, como Alceu Vieira e Humberto Beretta, mas salvamos nossa honra.

A queda de Amparo fora fatal para a Revolução Constitucionalista. Nossas montanhas haviam sido a grande fortaleza que retardado o avanço federal contra Campinas.  A tomada de Campinas encerrou a luta; São Paulo ficava isolada do Interior e não mais tinha condições de resistir.  Havíamos lutado bravamente.

O governo federal deu tanta importância à tomada de Amparo que promoveu o Coronel Eurico Gaspar Dutra, comandante das forças que ocuparam a cidade, a general de brigada. O caminho para a presidência da República ficou aberto para esse até então obscuro oficial…

Os tumultos políticos posteriores, as intentonas comunistas de 1935 e integralista de 1938, não chegaram a afetar Amparo. Alguns integralistas foram presos, mas por mera precaução.  Amparo havia recebido o título de “cidade-mártir” pelos bombardeios sofridos, mas agora gozava de paz.

Em 1939 as tensões internacionais chegaram ao seu auge.  Erros crassos cometidos pelas grandes potências no Tratado de Versalhes se somaram à disputa de mercados e à crise econômica.  Nações emergentes como o Japão e a Rússia adotaram posturas expansionistas, enquanto a Alemanha enfurecida pelos nazistas, passou a exigir a devolução de territórios que lhe haviam sido tirados. As grandes potências, vencedoras em 1918, Inglaterra, França e Estados Unidos, cometeram o erro de condescender com Hitler até onde foi possível.  Em setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polônia e tornou o conflito inevitável; as potências ocidentais reagiram declarando guerra.  Ia começar uma das maiores desgraças da Humanidade, que custaria 70 milhões de mortos e a destruição de milhares de cidades.

O Brasil ficou de fora enquanto pode. Mas uma reunião de todos os países da América, no Rio de Janeiro, resultou no rompimento de relações diplomáticas com a Alemanha. A partir daí submarinos alemães passaram a atacar navios brasileiros.  O afundamento de vários navios brasileiros em 1942 levou o Brasil a declarar guerra à Alemanha e a entrar em entendimentos com os Estados Unidos para a instalação de bases em território nacional e fornecimento de armas e equipamento militar.

A população do Amparo solidarizou-se com o resto do país, apoiando unanimemente a declaração de guerra. E logo começou o recrutamento para a Força Expedicionária Brasileira. Rapazes de todas as classes sociais, estudantes, comerciários, operários e profissionais liberais, foram convocados para treinamento militar. Trinta e dois “pracinhas” partiram para o front italiano. O primeiro soldado brasileiro a tombar em combate foi o amparense Atíliio Piffer e o último foi o também amparense Hilário Zanesco.  Outros, como José Trancolin, receberam menções honrosas e condecorações por bravura.

A volta das pracinhas foi comemorada com festas que duraram três dias. O povo de Amparo soube ser grato a eles e reconhecer o imenso sacrifício que deles foi exigido.

E desde os primeiros anos do século XX, o Tiro de Guerra 104, depois TG-5, vem treinando e formando reservistas para o Exército Nacional. A maior parte dos expedicionários amparenses havia recebido instrução militar no nosso TG antes mesmo de serem convocados para a FEB.  É de ser lembrado, junto com o Tiro de Guerra, o saudoso Capitão Lucas Cardoso da Silva, que serviu como sargento instrutor durante 12 e mais décadas como membro da Junta de Alistamento Militar.  Orgulho-me de ter sido seu comandado.  E me orgulho também de ter sido professor do sargento Carneiro, instrutor adjunto, hoje capitão, o mais brilhante de meus alunos.

Ao longo dos últimos duzentos anos, numerosos amparenses tem seguido a carreira militar no Exército, na Guarda Nacional, na Polícia Militar e na Aeronáutica.  Vários deles chegaram ao posto de coronel, mas agora temos um general de brigada da ativa, Flávio Marcus Lancia Barbosa, veterano da Guerra da Bósnia, onde serviu no Corpo de Paz da ONU, brilhante oficial que engrandece o nome de Amparo.

Resumindo:

Invadimos Minas e o Paraná, enviamos tropas para a Itália e Albânia, Uruguai e Paraguai, fizemos revoluções e detivemos as forças federais durante um mês nas nossas montanhas.  Somos um povo pacífico, mas sabemos lutar por tudo que achamos certo e nunca fugimos ao nosso dever!  Na América ou na Europa, nossos soldados se portaram sempre com honra e bravura. Pois eles eram amparenses!

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