Vamos continuar nossa viagem no tempo… vamos tentar testemunhar o encontro de duas frentes agrícolas no vale do Camanducaia.
A expansão da agricultura paulista no sentido norte foi retardada pelo relevo acidentado da vertente ocidental da Mantiqueira e pela densa “mata atlântica” do Sertão de Manducaia. Durante mais de um século as lavouras estacionaram ou andaram a passos lentos no eixo Nazaré/Atibaia/. Enquanto isso, estradas melhores, terreno menos acidentado e o ouro de Goiás, atraíram moradores para a variante noroeste do Caminho dos Goiazes, a principal, povoando sucessivamente Indaiatuba, Campinas, Mogi-Mirim e Mogi-Guaçu.
Assim, a vasta região que compreendia os atuais municípios de Itatiba, Morungaba, Tuiuti, Amparo, Serra Negra, Socorro e Pedreira, manteve-se quase intocada, apesar de ser atravessada pelo caminho de Atibaia a Mogi-Mirim. Poucos moradores se instalaram nesse vasto quadrilátero de selva e eram quase todos desertores ou foragidos da Justiça.
A partir de uma data indefinida, mas certamente posterior a 1750, lavradores de Mogi-Mirim e Mogi-Guaçu voltaram-se para a direção sudeste, onde as terras eram mais férteis, e criaram dois pequenos bairros, Posse e Ressaca, aproximando-se do vale do Rio Camanducaia. Enquanto isso, ao sul, lavradores de Atibaia avançaram para o Norte e fundaram Jaguari, hoje Bragança Paulista.,
No final do século XVIII, por volta de 1790, os livros de batizados
da paróquia de São José de Mogi-Mirim começaram a registrar sucessivos batismos de filhos de moradores de dois novos lugares, os “sítios” do Camanducaia e do Cascalho. Mas não foram apenas batizados que sinalizaram a presença de moradores nesses locais; um artigo do saudoso Jorge Antônio José, “Amparo no meu caminho”, publicado no Almanaque do Amparo de 1979, dá a conhecer escrituras de vendas de terras à beira do Camanducaia Mirim, um ribeirão que nasce no Pantaleão e desemboca no Rio Camanducaia, próximo a Duas Pontes. Esses documentos foram lavrados no cartório de Mogi-Mirim.
O “Cascalho”, lugar onde hoje se ergue a cidade de Pedreira, por sua vez, tem sua história desvendada por um documento de 1856, o Registro Paroquial de Terras. Nesse texto, descendentes de Felipe Pires de Ávila, justificando suas terras, declararam que originariamente João da Cunha havia feito uma posse no Cascalho, que passou sucessivamente a Jerônimo da Costa e a Felípe Pires de Ávila. Ora, pelos batizados de Mogi-Mirim, sabe-se que Felipe Pires de Ávila já residia no Cascalho na década de 1790, quando batizou vários filhos na igreja de Mogi-Mirim. Apesar disso, Felipe era de Bragança, onde foi vereador, e é ancestral das vastas famílias Pires de Ávila e Godoy Moreira, ativas participantes da política de Pedreira e de Amparo.. O próprio autor destas linhas descende dele, assim como o prefeito Raul Fagundes, que é trineto de Felipe.
Houve, assim, um encontro em Pedreira das duas frentes povoadoras: a dos mogianos e a dos bragantinos.
Ao mesmo tempo, gente de Nazaré, Bragança e Atibaia, começava a se instalar ao longo da estrada Atibaia/Mogi-Mirim e no vale do Camanducaia. Escrituras de 1801 e 1817, lavradas em Bragança, registram a venda de terras no Córrego Vermelho (conforme declarações no Registro Paroquial de Terras). Esses moradores haviam até mesmo edificado uma capela no Largo da Cadeia Velha, destruída por uma enchente do Camanducaia por volta de 1815. Amparo estava nascendo no ventre generoso da terra paulista.
Mas essa é outra história, que fica para a semana que vem, se Deus permitir.
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