Ereta a capela, definidos seus limites e nomeado seu primeiro cura, padre Roque de Sousa Freire, começou a se estabelecer no lugarejo do Amparo uma rotina com características urbanas. Passaram a haver missas dominicais, começou a ocorrer o afluxo de moradores rurais nos fins de semana para negócios, estabeleceu-se um princípio de administração pública, com fiscal, arruador e escrivão, que praticava atos legais como arruamento e alinhamento dos prédios e aplicava multas pela infração de
posturas municipais. Surgiram novas casas comerciais e prestadores de serviços, como ferreiros e seleiros, e começaram a existir as primeiras manifestações de vida política.
Entretanto, a zona rural também iria se modificar bastante, pois era exclusivamente produtora de gêneros de primeira necessidade, como feijão, milho,aves e ovos, e carne de porco, além de pequenos engenhos de açúcar e da produção de frutas como laranjas e bananas. Uma nova cultura, o café, estava chegando e provocaria rápidas e profundas alterações no modo de vida das propriedades rurais.
Segundo Dr. Áureo de Camargo, em “Romagem pelo Pátio”, o Padre Roque teria sido um dos pioneiros no cultivo da rubiácea, embora não fosse o primeiro. Seria necessário consultar o precioso arquivo desse historiador, onde devem constar os nomes de outros cafeicultores de antanho.
Ainda em 1829, em 20 de abril, é celebrado pelo padre Elias Rodrigues Moreira o Primeiro batizado, de uma criança de nome Adão, filho de João e Maria, escravos de Francisco Xavier dos Passos. Pedro Nunes de Pontes é o primeiro óbito registrado na nova capela. E logo faleceu Sargento-Mor Francisco Barbosa de Vasconcelos, filho do Capitão Antônio Barbosa de Vasconcelos e de Apolônia Maria do Pilar e Vasconcelos. Era casado com D. Gertrudes Maria Aranha,filha do Sargento-Mor Francisco Aranha Barreto, governador da Praça de Santos, comandante militar da
Praça de Iguatemi, um dos mais prestigiados militares da Capitania de São Paulo. Francisco Barbosa de Vasconcelos e Gertrudes Maria Aranha deixaram vasta descendência em Amparo e na região, inclusive nossa querida amiga Rita Andena. (SL, 1:376 e 7:489)
O padre Roque de Sousa Freire, porém, é a principal figura do Amparo nos seus primeiros anos. Pertencia a uma família abastada, que migrara do Vale do Paraíba para Mogi-Mirim, onde ele nasceu. Era cunhado do Barão de Pirapitingui. Foi proprietário de sítio em Amparo, que legou a seus escravos, aos quais emancipou. Como fazendeiro em Mogi chegou a possuir apreciável fortuna. Deve ter sido, mesmo, um dos pioneiros no plantio do café na nossa região.
Outros personagens importantes ou significativos nesse período foram Francisco da Silveira Franco, liberal, construtor do sobradão do Patronato, onde está se instalando a Cúria Diocesana de Amparo; João Bueno da Cunha, que doou o terreno para a construção da capela, hoje cátedral; João Pedro de Godoy Moreira, chefe de poderoso clã, ligado aos Pires de Ávila;
os Lemes da Silva, fundadores da cidade de Leme, e Antônio de Oliveira Matozinho, investido em 8/1/1832 nas funções de delegado da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, da vila de Bragança, que visa auxiliar a tranquilidade e segurança pública pelos meios legais e goza da aprovação governamental”. Essa Sociedade Defensora fora fundada por Evaristo da Veiga e apoiava o Regente Feijó contra os Andradas, que pregavam a restauração de D. Pedro I.
A capela entrou na habitual rotina de casamentos, enterros e batizados, além das missas e rezas vespertinas, entremeadas com a distribuição da extrema-unção a doentes espalhados por uma vasta área de 400 quilômetros quadrados. Não era fácil ser cura numa época em que não existiam automóveis ou motocicletas.
Também não era fácil a vida dos outros funcionários do lugarejo. O Fiscal Pedro Antônio Xavier, o Arruador e o Escrivão eram obrigado a atender repetidos casos de alinhamento, nivelamento e arruamento dos terrenos urbanos, de acordo com as normas do Código de Posturas de Bragança. Data dessa época o célebre “Livro do Amparo”, salvo pelo Dr.Áureo, no qual constam esses primeiros atos de administração.
E, é claro, começavam a surgir os clássicos problemas urbanos. Em 1831 Nicacio Lopes e seu Irmão Leonardo Lopes do Prado, moradores na Capela Curada de Amparo, se queixam ao Conselho da Presidência da Província de S.Paulo, contra o Juiz de Paz suplente que os prendera e os mantivera amarrados uma noite inteira com sentinela à porta (BOL-15:182/183)
É nesse período que começam a se estruturar alguns grandes troncos familiares amparenses. Em 21/2/1830 o professor José Lourenço Gomes, filho de Lourenço Gomes e de Ana Francisca, natural de S. Salvador da Árvore, Bispado do Porto, embora morador de Amparo, casou em Serra Negra com Joana Francisca de Oliveira, filha de Antônio Leme da Silva e de Maria Jacinta de
Oliveira, em Serra Negra em 21/2/1830 (CSN, 1:7) . E meu bisavôJoão Pires Batista, filho de Antônio Pires Pimentel e de Maria da Conceição, casou em 3/9/1834 no Amparo com Maria Pires, filha de João Pedro de Godoy Moreira e de Inácia Pires. Foram testemunhas do ato o Vigário Colado do Belém (Itatiba) Francisco Ortiz de Siqueira e o Capitão Salvador de Godoy Moreira. (CA-1:37).
E o velho pioneiro, um dos fundadores da cidade, Manuel Vaz Pinto, viúvo de Florinda Maria, casou-se em10/1/1833 com Umbelina Maria, natural de Bragança, filha de Teotônio José Pinto e de Rita de Godoy. (CA-1:23v). Manuel Vaz Pinto iria falecer em 7/2/1836, aos 70 anos, sendo sepultado dentro da Matriz. Era natural de Atibaia foi casado duas vezes: a primeira com Florinda Maria de Moraes, e a segunda com Umbelina Maria. (EFA, 37) E, em 6/7/1836, Jesuíno Leite de Sousa, natural de Mogi das
Cruzes, filho de Ângelo Leite de Siqueira e de Gertrudes Miquelina Rodrigues, casou no Amparo com Maria de Sousa Freire, filha de José Gonçalves de Abreu e de Francisca das Chagas de Sousa, sobrinha do Padre Roque de Sousa Freire. Foram tios do Coronel Luís Leite. (CA-2:10)
A vida econômica da comunidade também se movimentava, Negócios imobiliários se sucedem com a compra e venda de casas, de sítios e fazendas e de simples porções de terra. Em 17/4/1832 José Joaquim de Siqueira comprou de Pedro José de Ávila terras no Ribeirão da Areia Branca. (RPT, 45) Em 1/1/1834 o Capitão José Moreira César comprou terras no bairro da Areia Branca, que principiavam na Cruz Coberta. Em 1856 esse imóvel pertencia à sua viúva Gertrudes Maria de Vasconcelos e seus filhos. (RPT, 78) Em dezembro de 1837 Jacinto Alves do Amaral comprou parte de um sítio, no Bairro do Cascalho, hoje Pedreira, de Salvador Vieira de Andrade. (RPT, 57). E eram feitos outros negócios: em 20/9/1838 é lavrada a hipoteca de “uma morada de casas sitas nesta mesma capela, na rua que segue para a Capela do Rosário”; devedores Inácio José da Gama e sua mulher Maria Lourença; credor Antônio Joaquim da Cunha. (PO/LN,1:4). Em 24/4/1838 Francisco José de Oliveira comprou terras de Jorge Pereira Cardoso. (RPT, 229)
Em 1839 o governo da província passa a tratar de uma estrada entre Amparo e Atibaia, que aparentemente não passaria por Bragança. Realmente, os mapas da época indicam a existência desse caminho. É difícil entender tanto o traçado, como a utilidade dessa via, mas ainda hoje existem várias alternativas para se chegar a Bragança e Atibaia: pela Boa Vereda, pelo Córrego Vermelho e pela rodovia asfaltada que passa por Tuiuti. Uma parte delas, pelo menos, teria sua manutenção privatizada. (Corr. Off., 6/2/1839 – A Phenix, 20/2/1839, 4/5/1839 e 8/5/1839)

Elevação a freguesia
Em 27/3/1839 é apresentado na Assembléia Provincial um “Parecer da Comissão de Estatística, Fazenda e Eclesiástica oferecendo uma resolução elevando a freguesia a Capela Curada de Nossa Senhora do Amparo”. O deputado Pacheco Jordão pediu que se dispensasse a impressão de tal resolução. (A Phenix). E, na sessão de 6/3/1839 já havia sido sancionada a Resolução que elevava a Capela do Amparo a freguesia (A Phenix, 9/6/1839)
Com isso, Amparo ganhava um Juizado de Paz, os foros de freguesia com Vigário, um cartório, e outras vantagens. Em 18/8/1839, o Juiz de Paz Baltasar Franco Bueno preside audiência em processo movido por Inácio Correia Franco contra José Correia de Lima, e não tendo havido acordo, o escrivão Francisco José de Castro Guimarães lavrou o “Termo de Não Conciliados”. É o primeiro ato praticado no Juizado de Paz da Freguesia de Nossa Senhora do Amparo. (LPA, 1)
Mas a elevação a freguesia acirra as lutas políticas no lugarejo. Em 18/9/1839, “A Phenix” notícia que “os fingidos amigos do monarca” (liberais) foram derrotados na freguesia do Amparo “- E, em 21/11/1839, o mesmo periódico dá conta de arbitrariedades de José da Silveira Franco, capitão da companhia da Guarda Nacional de Amparo, contra Silvestre da Cunha Claro. (A Phenix)
A freguesia era progresso, mas o progresso tinha seu preço. Iam começar as lutas políticas.
Mais uma vez as obras de Dr. Áureo, os livros da Cúria Diocesana, o Cartório do 1º ofício e a imprensa, com o “Correio Official” e “A Phenix”, foram as nossas fontes, coadjuvadas pelo
Registro Paroquial de Terras

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