Coronel Alonso Dantas Pereira – interino –

 

Alonso Dantas Pereira, membro de uma das mais tradicionais famílias amparenses, era filho de Américo Antônio Pereira e neto do Tenente José Antônio Pereira, um dos patriarcas oitocentistas do Amparo. O Tenente José Antônio Pereira era filho de Manuel Antônio Pereira e de Francisca Maria Xavier (Não podemos afirmar ainda com certeza absoluta, mas acreditamos que o Tenente José Antônio era filho de Manuel Antônio Pereira, o pedreiro bragantino que construiu a Capela do Amparo em 1825).(1)

Alonso Dantas Pereira foi uma espécie de coringa da política amparense. Eleito vereador duas vezes, ocupou a prefeitura, em caráter interino ou efetivo, em várias oportunidades. Foi suplente de Delegado de Polícia também várias vezes; numa delas, em 1924, num episódio pitoresco, incumbiu o Pimenta, preso mais antigo da Cadeia Pública, de recepcionar o Tenente Cabanas, que estava vindo para invadir a cidade; em outra, em 1938, acompanhou, de trem, os integralistas presos até o DOPS, para evitar que sofressem violências no percurso.

Por essas e outras razões, foi um dos cidadãos mais estimados e respeitados pelo povo de Amparo na primeira metade do século XX.

Iniciou sua vida pública em 16/12/1907 quando se elegeu vereador pela corrente pedrista com 666 votos(2), para o triênio 1908-1911(3). Em 23/4/1909 – Alonso Dantas Pereira é um dos amparenses que recepciona a comitiva do Presidente do Estado de São Paulo Albuquerque Lins, de volta de Socorro, onde fora inaugurar o ramal da Mogiana (4).

Em 28/12/1910 Alonso Dantas Pereira foi sorteado para servir no júri(5), encargo  reservado às elites da época. E em 27/9/1914 nasceu seu filho Paulo, que mais tarde o acompanharia nas trincheiras, como soldado constitucionalista do Batalhão 23 de Maio. (6)

Manteve-se sempre ligado à política. Em 1919 integrou uma comissão pró candidatura de Ruy Barbosa(7).  Embora sua profissão fosse a de lavrador, também foi homem de negócios; em 1925 teve que servir como síndico numa falência, na qual era credor(8).

Em 1926 Alonso Dantas Pereira é eleito vereador para o triênio 1926-1929. Passa a fazer parte do Diretório do PRP em Amparo, junto com Joaquim Damião Pastana, João Arruda Pastana, Dionísio Peterlini, Agenor de Araújo Cintra e Oscar Mangeon. (10)

Em 1927 e 1928, escolhido vice-prefeito (o titular era Dr. Virgílio de Araújo), assume interinamente a Prefeitura várias vezes. (9a e 11)

O ano seguinte, 1929, é de festas e de crise fulminante. Amparo comemorou seu centenário com grande pompa e entusiasmo em setembro, mas em outubro o Brasil mergulhou na mais profunda crise econômica de sua História. Amparo, um dos principais municípios produtores de café, foi duramente atingido.

A reação foi imediata por parte dos lavradores. Uma

reunião de fazendeiros foi convocada no Teatro Variedades, para estudar medidas para enfrentar a crise; Alonso Dantas Pereira compareceu. A decisão foi sumária: adotar uma redução de 30% nos salários e promover a fundação de uma Liga Agrícola local. Medidas inúteis; a crise só poderia ser resolvida ou amenizada pelo Governo Federal e este se recusava peremptoriamente a interferir… (12)

As conseqüências não se fizeram esperar. O Partido Republicano começou a se desintegrar; dezenas de militantes e mesmo líderes abandonaram a legenda em Amparo. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba não aceitaram candidato Júlio Prestes, imposto pelo presidente Washington Luís. O governo ganhou as eleições, sob protestos de que houvera fraude nas urnas.

O assassinato do candidato a vice-presidente pela oposição, João Pessoa, foi o estopim da revolta. Eclodiu em outubro de 1930 a Revolução Liberal. Em 15/10/1930 uma reunião convocada pela Câmara e pelo Diretório Político resolveu organizar um Batalhão Patriótico, denominado “Legião Amparense”, e uma Guarda da Cidade, para substituir o Tiro 104, que estava fazendo o serviço de policiamento e que iria ser recolhido à Capital (a Força Pública já fora recolhida à Capital). Participaram da reunião o Dr. Aristides Fernandes, que a presidiu, Benedito da Silveira Pupo, prefeito municipal, coronel Alonso Dantas Pereira, Dr. Virgílio de Araújo, Dr. Benedito de Toledo e Dr. Flávio de Queiroz Moraes, que compuseram uma comissão encarregada dessas tarefas. O coronel Alonso declarou que não podia aceitar a indicação, pois pretendia seguir junto com a Legião Amparense em defesa da legalidade(13).

Não deu tempo, entretanto, para mais nada. A 26 desse mês Washington Luís era deposto e exilado. Acabara uma era.

Em 1932 o coronel Alonso Dantas Pereira participa dos combates da Revolução Constitucionalista como soldado raso e é promovido a cabo por bravura(14). Em 1933 era nomeado pelo Instituto do Café para a Comissão Censitária de Amparo, junto com Dr. Virgílio de Araújo e Joaquim Damião Pastana(15).

A volta à política se deu em 19/4/1933; o Dr. Pedro de Araújo foi exonerado do cargo de Prefeito Municipal de Amparo, para o qual fora nomeado pelo comando das tropas federais que haviam ocupado a cidade em 1932, e foi nomeado Alonso Dantas Pereira para o cargo (16 e 17).

O Coronel Alonso ficou no cargo de prefeito até 20/8/1934, quando foi sucedido pelo Dr. Constâncio Cintra, empossado numa cerimônia que contou com dezenas de pessoas presentes (20). O Coronel Alonso havia pedido exoneração porque pretendia se manter no P.R.P, que passava a fazer oposição ao Governador Armando Sales de Oliveira. Nessa condição de militante do partido, o Coronel Alonso integrou comitiva que foi a Pedreira apoiar o venerando Coronel Luís Wenceslau de Godoy Moreira, também perrepista (20ª).

 

Em 1936 o Coronel Alonso ainda era convocado para servir o júri, o que indicava que se mantinha um homem válido(21). E de fato, voltou a ser suplente de Delegado de Polícia, cargo em que teve a triste incumbência de prender concidadãos suspeitos de participação na Intentona Integralista de 1938. Nessa ocasião, o Coronel Alonso, condoído e preocupado com a sorte deles, acompanhou os integralistas presos, de trem, até o DOPS para evitar que sofressem violências (22).

Nesse mesmo ano fez parte da comitiva que representou Amparo nas homenagens ao Presidente da República, chefiada pelo prefeito Raul Fagundes e integrada por Antônio Américo Camargo, Aristides Fernandes, Alonso Dantas, Francisco Galvão Sampaio, Dr. Carlos Alves de Godoy, Afonso Pacetta, Domingos Leite de Almeida, Arthur de Campos Freire e Almiro de Assis. (23) –

Em 1939 era vice-presidente do Club 8 de Setembro,  de cuja diretoria fazia parte há muitos anos (24). Mas depois disso, já idoso, reduziu sua participação na vida da cidade. Em dezembro os jornais noticiam sua mudança para Campinas. (25)

Em 11/8/1948 houve um voto de pesar pelo falecimento do Coronel Alonso Dantas Pereira na Assembléia Legislativa. (26)

 

NOTAS

 

(1) – Tenente José Antônio Pereira (só identificado por servir de padrinho junto sua irmã Delfina Maria de Jesus), casado com Ana Rita de Cássia, já moradores no Amparo em 1829. Era natural de Parnaíba. O Tenente foi figura destacada nos primeiros tempos da cidade, tendo sido Juiz de Paz em 1847. O Tenente José Antônio era dono de um sítio de 400 alqueires no bairro da Barra, que havia comprado antes de 1856 de Joaquim Antônio de Sousa e sua mulher Maria Angélica da Silva. O Tenente José Antônio Pereira testou em 10/11/1864, quando ainda não tinha filhos de sua segunda mulher (1ºof.12:80). Em 1876 cuidava-se do inventário do tenente (1ºof.35:159)

O Tenente José Antônio Pereira casou uma segunda vez com Maria da Silveira Campos (sem geração segundo algumas fontes, o que é um equívoco, porque encontramos três filhos), mas ele e Ana Rita de Cássia tiveram 24 filhos, 18 deles falecidos na infância:

1 – Maria, batizada em 1829;

2 – Eufrásia, batizada em 1830;

3 – Antônia;

4 – Joaquim, batizado em 1834; provavelmente falecido na infância.

5 – Joaquim Antônio Pereira, batizado em 1843, estava casado em 1864 com Tomásia Leopoldina Guimarães, filha de Manuel Fernandes Guimarães e Albina Carolina da Silveira (CA-5:49), ocasião em que, junto com outros herdeiros vendeu uma casa na Rua Direita, com fundos para a Rua da Boa Vista, havida por herança de Rita Maria de Cássia (1ºof.12:102); também vendeu pouco depois metade do escravo Sabino, que houvera por herança de seu sogro (1ºof.12:173v).

6 – Eufrásia de Cássia Vasconcelos, outra, batizada em 1835; casou em 1857 com Cyrino Antônio Dantas de Vasconcelos, filho de Januário José Dantas de Vasconcelos e de Gertrudes Maria da Conceição;

7 – Américo Antônio Pereira, batizado em 1837, casou em 1857 com Josefina Marcelina Dantas, filha do Alferes Januário José Dantas de Vasconcelos e de Gertrudes Maria da Conceição. Foi membro do Conselho de Intendência Municipal do Amparo em 1891 e foi um dos maçons que outorgou procuração em 4/3/1875 ao Conselheiro Joaquim Saldanha Marinho para protestar contra a bula papal que excomungava os maçons. Foram pais de:

7.1 – Coronel Alonso Dantas Pereira, político amparense, vereador, vice-prefeito, prefeito interino, delegado de polícia. Pessoa muito estimada pela sua bondade e lhaneza de trato, foi casado com Elmira Cintra Pereira. O Coronel Alonso foi soldado constitucionalista na Revolução de 1932. Foi pai de:

7.1.1 – Paulo Cintra Pereira, bancário; viveu até os 90 anos, amigo pessoal do autor destas linhas. Também foi soldado constitucionalista, sob ordens do próprio pai.

7.1.2 – Juarez Cintra Pereira, fiscal do Estado, casado com Cecília Queiroz Cintra Pereira.

7.1.3 – Maria Antônina Mendonça de Barros, casada em 1938 com o Dr. Antônio Mendonça de Barros, advogado, que foi prefeito de Campinas na década de 1950.

(1ª) – 10/11/1864 – testamento do Tenente José Antônio Pereira, filho de Manuel Antônio Pereira e Francisca Maria Xavier; foi casado em primeiras núpcias com Rita de Cássia, de quem teve 24 filhos, dos quais existem vivos: Américo Antônio Pereira, Joaquim Antônio Pereira, Helena Carolina de Cássia, Eufrásia de Cássia Vasconcelos e Rita Maria de Cássia. Casou em segundas núpcias com Maria da Silveira Campos, sem filhos até aquela data. (PO/LN,12:80)

(2) – 16/12/1907 – Alonso Dantas Pereira  se elege vereador pela corrente pedrista com 666 votos (OESP)

(3)- 1908 – Alonso Dantas Pereira é eleito vereador para o triênio 1908-1911.

(4) – 23/4/1909 – Alonso Dantas Pereira é um dos amparenses que recepciona a comitiva do Presidente do Estado de São Paulo Albuquerque Lins, de volta de Socorro, onde fora inaugurar o ramal da Mogiana (OESP)

(5) – 28/12/1910 – Alonso Dantas Pereira sorteado para servir no júri (OESP)

(6) – 27/9/1914 – nasce Paulo, filho de Alonso Dantas Pereira (OESP)

(7) – 4/2/1919 – Alonso Dantas Pereira integra comissão pró candidatura de Ruy Barbosa. (OESP)

(8) – 3/8/1925 – Alonso Dantas Pereira síndico de falência (OESP)

(9) – 1926 – Alonso Dantas Pereira é eleito vereador para o triênio 1926-1929.

(9ª) – 13/4/1927, 3/11/1927 e 12/10/1928 – O Prefeito Dr. Virgílio de Araújo viaja para São Paulo – o vice-prefeito Alonso Dantas Pereira assume o cargo (CP).

(10) – 18/8/1928 – Diretório do PRP em Amparo: Alonso Dantas Pereira, Joaquim Damião Pastana, João Arruda Pastana, Dionísio Peterlini, Agenor de Araújo Cintra e Oscar Mangeon. (Folha da Manhã)

(11) – 20/9/1928 – Alonso Dantas Pereira, vice-prefeito, exerce interinamente o cargo de prefeito, e assina edital de concorrência para calçamento de ruas da cidade. (CP) – 20/10/1928- “Amparo – A broca do café” – telegrama do Prefeito Alonso Dantas Pereira, pedindo as providências necessárias. (OESP) – 19/11/1928 e(OESP) 19/12/1928 – Coronel Alonso Dantas Pereira, Prefeito Municipal de Amparo, em exercício. (OESP)

(12) – 5/11/1929 – Alonso Dantas Pereira comparece a uma reunião de fazendeiros no Teatro Variedades – medidas para enfrentar a crise – redução de 30% nos salários – fundação de Liga Agrícola (OESP)

(13) – 15/10/1930- Reunião convocada pela Câmara e pelo Diretório Político resolve organizar um Batalhão Patriótico, denominado “Legião Amparense”, e uma Guarda da Cidade, para substituir o Tiro 104, que estava fazendo o serviço de policiamento e que iria ser recolhido à Capital (a Força Pública já fora recolhida à Capital). Participaram da reunião o Dr. Aristides Fernandes, que a presidiu, Benedito da Silveira Pupo, prefeito municipal, coronel Alonso Dantas Pereira, Dr. Virgílio de Araújo, Dr. Benedito de Toledo e Dr. Flávio de Queiroz Moraes, que compuseram uma comissão encarregada dessas tarefas. O coronel Alonso declarou que não podia aceitar a indicação, pois pretendia seguir junto com a Legião Amparense em defesa da legalidade. (CP)

(14) – 1932 – participa dos combates da Revolução Constitucionalista como soldado raso – promovido a cabo por bravura.

(15) – 10/3/1933 – O Instituto do Café nomeara na véspera a Comissão Censitária de Amparo: Dr. Virgílio de Araújo, presidente, e Alonso Dantas Pereira e Joaquim Damião Pastana, membros. (Folha da Manhã)

(16) – 19/4/1933 – Dr. Pedro de Araújo exonerado de Prefeito Municipal de Amparo, e nomeado Alonso Dantas Pereira para o cargo. (CSP)

(17) – 19/7/1934 – Alonso Dantas Pereira, Prefeito de Amparo, telegrafa ao Governador Armando Sales, cumprimentando pela promulgação da Constituição Estadual. (Folha da Manhã)

(18) – 20/4/1933 – Termo de posse do Prefeito Coronel Alonso Dantas Pereira. Otávio Vasconcelos estava em exercício como Prefeito desde a véspera. (Atas,26:19)

(19) – 19/7/1934 – Alonso Dantas Pereira, Prefeito de Amparo, telegrafa ao Governador Armando Sales, cumprimentando pela promulgação da Constituição Estadual. (Folha da Manhã)

(20) – 17/8/1934 – Alonso Dantas Pereira exonerado a pedido do cargo de prefeito de Amparo – nomeado Constâncio Cintra – 20/8/1934 – Termo de posse do Prefeito Municipal: o Dr. Constâncio Cintra sucede ao Coronel Alonso Dantas Pereira, estando “presente grande número de pessoas” – lista de assinaturas dos presentes. (Atas, 26:49v/50)

(20a) – Alonso Dantas Pereira integra comitiva do P.R.P a Pedreira, chefiada pelo Padre Luís Fernandes de Abreu, candidato a deputado; estava nela também Dr. Aristides Fernandes, Dr. Paulo Sampaio, Raul Fagundes, Herculano Cintra, Antônio Borges de Almeida, Juarez Pereira, José (?) Clímaco de Oliveira, Emir Baladi e Arthur Arruda – vão dar apoio ao “Cel. Luís Wenceslau de Godoy Moreira, último varão da tradicional família que fundou Pedreira” (CP)

(21) – 23/12/1936 – Alonso Dantas Pereira sorteado para servir no juri (OESP)

(22) – 1939 – delegado de Polícia em 1938, o Coronel Alonso acompanhou os integralistas presos, de trem, até o DOPS para evitar que sofressem violências.

(23) – 29/7/1938 – Comitiva que representou Amparo nas homenagens ao Presidente da República, chefiada pelo prefeito Raul Fagundes: Antônio Américo Camargo, Aristides Fernandes, Alonso Dantas, Francisco Galvão Sampaio, Dr. Carlos Alves de Godoy, Afonso Pacetta, Domingos Leite de Almeida, Arthur de Campos Freire e Almiro de Assis (CP)

(24) – 23/10/1939 – Alonso Dantas Pereira vice-presidente do Club 8 de Setembro (OESP)

(25) – 3/12/1939 – Correio Paulistano.

(26) – 11/8/1948 – voto de pesar pelo falecimento do Coronel Alonso Dantas Pereira na Assembléia Legislativa (OESP)

 

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